segunda-feira, 12 de agosto de 2013

LIÇÃO Nº 07 – A ATUALIDADE DOS CONSELHOS PAULINOS

LIÇÃO Nº 7 – A ATUALIDADE DOS CONSELHOS PAULINOS


INTRODUÇÃO
- Na sequência do estudo da carta aos filipenses, adentraremos na chamada “parte prática” da epístola, em
que o apóstolo já inicia recomendando algumas condutas àqueles crentes.
- Os conselhos dados pelo apóstolo não se circunscrevem aos crentes de Filipos, mas revela como deve
ser o comportamento de quem tem uma genuína e autêntica vida cristã.

I – OS ENSINOS CONSTANTES DO APÓSTOLO PAULO
- Damos início, neste estudo da epístola de Paulo aos filipenses, à “parte prática” da carta, ou seja, a parte da carta onde o apóstolo Paujlo dá ênfase ao comportamento que os cristãos filipenses deveriam ter para
demonstrar a sua salvação em Cristo Jesus.
- Esta “parte prática”, que abrange os capítulos 3 e 4 da epístola, inicia-se com uma afirmação do
apóstolo que deveriam os crentes de Filipos se alegrassem no Senhor, ensino este que Paulo revela já ter
dado aos filipenses no passado, mas que não se cansava de repetir, pois seria segurança para aqueles irmãos (Fp.3:1).
- Vemos, por primeiro, que o apóstolo Paulo era avesso a “novidades”, a “inovações”. “Não me aborreço
de escrever-vos as mesmas coisas” (Fp.3:1). Paulo sabia que a Palavra de Deus deveria ser ensinada sempre, em todo instante, de modo repetitivo, exaustivo, pois, sem a Palavra, não pode haver segurança na vida espiritual.
- Todo e qualquer pessoa comprometida com o apascentar do povo de Deus não pode ter outra conduta senão a de sempre ensinar as mesmas coisas, de dizer as mesmas coisas, pois a Palavra de Deus não muda (I Pe.1:25), já que é testemunha de Cristo (Jo.5:39), é a Verdade, que é o próprio Cristo (Jo.14:6; 17:17) e, como tal, é a mesma ontem, hoje e eternamente (Hb.13:8).
- Quantos, entretanto, em nossos dias, já não mais ensinam a Palavra de Deus, buscam trazer “inovações”,
“novidades” a fim de “prender a atenção” e “atrair” pessoas, esquecidos de que o verdadeiro e genuíno servo de Deus não se aborrece com as “mesmas coisas”, pois, como dizia o saudoso pastor Walter Marques de Melo (1933-2012): “O Evangelho é o mesmo”.
- Vivemos num mundo em que impera a “cultura do descartável”, ou seja, onde é prevalecente a cultura
superficial, que não gera qualquer comprometimento, onde as pessoas vivem a buscar coisas novas, já que
nada lhes satisfaz. Dentro desta situação, não é difícil que muitos corram de uma para outra parte, sempre
buscando “o novo”, numa atitude, porém, que não pode ser, de modo algum, compartilhada pelos que servem a Cristo que, sendo diferentes do mundo, não podem querer se saciar nas coisas passageiras deste mundo, mas, sim, fundamentar-se na Palavra de Deus, que jamais há de passar (Mt.24:35).
- O apóstolo, apesar de toda a sua erudição, não tinha outro objetivo senão “escrever as mesmas coisas” para as igrejas, pois seu foco era trazer “segurança” para os cristãos, para os servos do Senhor. Somente se tem segurança quando se ensina a Palavra de Deus, quando se constrói a vida na rocha, que é Cristo (Mt.7:24,25; I Co.10:4).
- É preciso haver uma perseverança no ensino doutrinário, uma continuidade, uma exaustão, que nada
mais é que a devida alimentação do povo de Deus, pois o salvo precisa se alimentar diariamente da Palavra de Deus (Mt.4:4).
- Vivemos dias de carência do ensino da Palavra de Deus nas igrejas locais, onde, lamentavelmente, muitos
obreiros foram indevidamente separados para aquela função, já que não são aptos para ensinar (ITm.3:1,2), e outros, embora até tenham condições de ensinar, preferem saciar esta “curiosidade por novidades” que domina a mentalidade de muitos que cristãos se dizem ser em nossos dias, a “ensinar as mesmas coisas”. Que Deus modifique este trágico quadro!
- Paulo fez questão de dizer que não se aborrecia de escrever as mesmas coisas, porque dissera aos filipenses que restava dizer-lhes que deveriam se alegrar no Senhor. Temos, aqui, portanto, o retorno ao tema da alegria, que marca tanto esta carta.
- Esta é a sétima alegria mencionada na carta, a saber, a “alegria de estar em Cristo”. “…Quando o
Divino Mestre estava se despedindo dos Seus discípulos logo antes do Seu suplício, Ele lhes falava muito em alegria. Disse-lhes: ‘Assim também vós agora, na verdade, tendes tristeza, mas outra vez vos verei, e o vosso coração se alegrará, e a vossa alegria ninguém poderá tirar’ (João 16.22). Paulo era exemplo vivo desta verdade, pois quando tudo lhe era contrário então era que o seu coração transbordava de alegria!…” (SENA NETO, José de Barbosa. Carta aos filipenses: a carta da alegria! Disponível em: http://www.cpr.org.br/bnfilipenses.htm Acesso em 12 jun. 2013).
- Paulo, mais uma vez, mostrava aos crentes de Filipos que não havia motivo algum para abalos na fé, para
tristezas e angústias. Eles pertenciam ao corpo de Cristo, eles estavam em Cristo e, como tal, tinham garantida a sua salvação, se permanecessem fiéis até o fim. Ninguém poderia lhes tirar esta alegria, pois Jesus havia vencido a morte e o pecado e aberto o caminho para a comunhão com Deus e para a vida eterna, de sorte que ninguém nem nada nos poderia separar do amor de Deus que há em Cristo Jesus (Rm.8:38,39).
- Se soubéssemos o que significa “estar em Cristo”, se jamais nos esquecêssemos o significado de
pertencermos à Igreja, certamente não daríamos tanta vazão a sentimentos de tristeza, decepção, angústia e
tantas outras coisas que tumultuam a nossa vida sobre a face da Terra.
- Se estamos em Cristo, se desfrutamos de comunhão com Ele, não há motivo senão para nos alegrarmos na Sua presença, pois, mesmo não merecendo, estamos marchando para Sião, para a Jerusalém celeste, para, em glória, termos a companhia do Senhor para todo o sempre. Quem tem esta noção sabe, claramente, que as aflições do tempo presente não são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada (Rm.8:18).
- Não é por outro motivo que o apóstolo, mesmo aprisionado e correndo risco de vida, era capaz de não só demonstrar mas de transmitir alegria aos crentes de Filipos, porque muitos salvos, ainda hoje, mesmo em
situações extremamente delicadas, quando são visitados por outros para ser consolados, acabam por consolar os seus visitantes. É a presença da “alegria em Cristo” na vida daqueles que são salvos!

II – A NECESSÁRIA VIGILÂNCIA DIANTE DOS ADVERSÁRIOS DA OBRA DE DEUS
- Apesar de termos a “alegria em Cristo”, que ninguém nos pode tirar, ainda estamos neste mundo (Jo.17:11) e, diante desta realidade, o apóstolo, mostrando mais uma vez que o verdadeiro cristão deve estar sempre atento à realidade e jamais se deixar levar por ilusões, recomenda aos filipenses que deveriam ter uma atitude de vigilância, de prudência enquanto estivessem em sua peregrinação terrena.
- Não podemos nos iludir com um falso “triunfalismo”. Se é verdade que ninguém pode tirar a nossa alegria
em Cristo, se é verdade que, estando em Jesus, estamos livres do poder do maligno, não podemos nos esquecer que nosso processo de salvação somente findará com a glorificação, a se dar única e exclusivamente no dia do arrebatamento da Igreja, de modo que precisamos nos manter fiéis e em constante vigilância até aquele dia ou quando formos promovidos para a eternidade. É este, aliás, o ensino de Nosso Senhor e Salvador: “E as coisas que vos digo digo-as a todos: Vigiai.” (Mc.13:37).
- Por isso, além de uma vida de intensa busca a Deus, o cristão deve tomar algumas precauções, a fim de
não se contaminar com o mundo e o pecado, como que um “lado negativo”, um “lado de abstenção” que a
vida com Deus exige.
- É precisamente este o sentido da expressão “guardai-vos” que encontramos nas primeiras recomendações do apóstolo aos filipenses. Como ensina Russell Norman Champlin, a expressão grega original é “blepete”
(βλέπετε), “…verbo de uso comum que significar ‘ver’, embora também usado com o sentido de ‘considerar’, ‘observar’, ‘dirigir a atenção para’ ou, mais forte ainda, ‘acautelar-se’…” (O Novo Testamento interpretado versículo por versículo, v.5, p.44).
- A primeira destas providências que devem ser tomadas pelo cristão é o de “guardar-se dos cães”
(Fp.3:2). Tal ensino do apóstolo não era nenhuma inovação, pois o próprio Senhor Jesus, no sermão do
monte, já havia ensinado Seus discípulos a que “não dessem aos cães as coisas santas, nem deiteis aos
porcos as vossas pérolas” (Mt.7:6).
- Naturalmente, que não está aqui o apóstolo nem tampouco o Senhor Jesus a se referirem aos animais
conhecidos como os “melhores amigos do homem”. Para bem entendermos esta expressão bíblica, devemos nos remeter à cultura judaica.
- Como Paulo não ensinava nada novo, como ele mesmo acabara de afirmar, é proveitoso analisarmos seu
ensino à luz do que havia dito o Senhor Jesus no sermão do monte.
- Quando o Senhor Jesus fala em cães e porcos, devemos observar que ambos “…eram animais imundos,
segundo a lei dos judeus ( I Rs.21:19; 22:38; II Sm.3:8; 9:8; Mt.25:26; Ap.22:15). Esses animais são símbolos de certos tipos de homens. Há várias ideias sobre isso: 1. Os hereges (cães); os inimigos (especialmente no sentido religioso); os indivíduos hostis (os porcos). 2. De acordo com Agostinho,os perseguidores hostis (cães); os indivíduos imundos, sem sentimento algum de santidade (porcos). Paulo se referiu a homens assim:’… para que sejamos livres dos homens perversos e maus; porque a fé não é de todos’ (I Ts.3:2).Os escritos judaicos falam de alguns homens como se fossem animais imundos e desavergonhados. Provavelmente Jesus pensou em tais referências ao proferir essas palavras. A experiência humana confirma o fato de que alguns indivíduos se encontram em nível mais baixo que aquele ocupado pelos animais, devido às suas ações violentas e amorais…” (CHAMPLIN, Russell Norman. O Novo Testamento interpretado versículo por versículo, v.1, p.331) (destaque original).
- Neste texto, “…o apóstolo destacava um grupo particular de homens religiosos, os quais deveriam ser
vigiados especialmente para que suas doutrinas e suas práticas não viessem a macular a pureza da
comunidade cristã de Filipos. De acordo com a lei levítica, o cão era um animal imundo; era um termo
comum entre os judeus, como designação dos gentios. O cão era reputado animal de pouco valor; o preço de compra de um deles era equiparado com o preço do uso de uma prostituta. Um israelita não podia fazer
penetrar na casa de Deus nem os cães e nem as prostitutas, porquanto isso seria considerado uma abominação, segundo se lê em Dt. 23:18.(…). O trecho de Rm.22:15 menciona que os ‘cães’ ficarão fora da cidadecelestial; e isso indica os corruptos. Nos escritos de Homero esse termo é usado para falar de pessoas audazes e desavergonhadas, especialmente mulheres. No presente texto está em foco o caráter moral dos falsos mestres, em importar se eram ‘judaizantes’ ou não, em contraste com a pureza que se espera nos verdadeiros crentes. O cão é um animal sem-vergonha, voraz, aproveitador, desordeiro, vagabundo, briguento; e é possível que algumas dessas qualidades negativas devam ser compreendidas acerca daqueles sobre quem Paulo falava assim indiretamente…”(CHAMPLIN, op.cit., v.5, p.44).
- Precisamos ter cuidado para não nos comprometermos com pessoas que não têm temor a Deus, que não se respeitam nem considerar as coisas santas, as coisas de Deus, pessoas que menosprezam o que é sagrado, que não levam em conta os ensinos da Palavra de Deus, que vivem como se Deus não existisse e cuja religiosidade apenas reflete a sua vontade e não a vontade de Deus. Estes são os “cães”, pessoas que rejeitam os ensinos e a autoridade do Senhor e que não podem mudar nossa mentalidade e nossa maneira de viver temente a Deus.
- “…Nosso mundo moderno e autossuficiente, infelizmente, já não precisa mais de Deus; vive como se o
Todo-Poderoso não existisse, e agora sofre. O Papa Bento XVI disse que o homem moderno construiu um
mundo que não tem mais lugar para o Senhor.…” (AQUINO, Felipe. O mundo vive como se Deus não
existisse. Disponível em: http://www.cancaonova.com/portal/canais/formacao/internas.php?e=11981 Acesso em 12 jun. 2013). É esta a mentalidade própria dos “cães”, que devemos evitar e prevenir, para que possamos chegar ao final de nossa jornada terrena guardando a salvação que nos foi dada por Jesus Cristo.
- Muitos, infelizmente, estão a se envolver com os “cães” em nossos dias. Vivem uma vida espiritual frívola e não têm qualquer vergonha, misturando-se com o pecado e com o mundo e, o que é pior, trazendo o
mundanismo para as coisas sagradas, profanando o culto a Deus. Tomemos cuidado com estas pessoas, pois elas podem nos levar a ficar de fora do lar celestial!
- Mas, além dos “cães”, o apóstolo também nos manda guardar dos “maus obreiros”. Paulo já havia se
referido a eles no início da carta, ao dizer que alguns estavam a pregar o Evangelho por inveja e por porfia,
querendo acrescentar mais aflições ao apóstolo (Fp.1:15,17).
- Vemos, pois, que, já naquele tempo, havia, na igreja, os “maus obreiros”, pessoas que estavam a se
ocupar do ministério da palavra mas que não o faziam puramente, sendo dominados pelas obras da
carne, tais como invejas, porfias e contenções. Por isso, o Senhor Jesus nos manda observar os frutos
daqueles que dizem servir a Cristo, pois há aqueles verdadeiros lobos que estão travestidos de peles de ovelhas (Mt.7:15,16).
- Tais “maus obreiros”, sempre existentes no meio das igrejas locais, aumentaram em número em nossos dias, pois isto é mais um sinal da proximidade do arrebatamento da Igreja (Mt.24:11; II Pe.2:1-3). Por isso, a presença e descoberta de “maus obreiros” entre os cristãos não deve ser um fator de desestabilização de nossa fé em Jesus Cristo, pois tais escândalos são inevitáveis (Mt.18:7).
- O que não podemos é seguir as dissoluções destes “maus obreiros” (II Pe.2:2), a fim de não ser por eles
enganados e, assim, retornemos ao erro de que estávamos nos afastando desde o instante em que passamos a servir a Deus (II Pe.2:18), não nos deixando levar pelo “discurso da liberdade” que estes servos do pecado e da corrupção andam alardeando (II Pe.2:19).
- Ao contrário do apóstolo Paulo, estes “maus obreiros” são peritos em anunciar “novidades”, em ser atraentes e em fazerem coro com aqueles “maus sacerdotes” dos tempos de Malaquias, onde tudo “não fazia mal” (Ml.1:8). Tomemos cuidado, amados irmãos, com estes “facilitadores”, com estes “crentes modernos”, que nada mais são que “maus obreiros”, de quem devemos nos guardar se quisermos terminar com êxito a nossa jornada terrena.
- Mas o apóstolo também manda que os crentes de Filipos vigiassem e se guardassem da circuncisão.
Aqui a melhor tradução não é a da Versão Almeida Revista e Corrigida, pois o texto original não fala da
circuncisão em si, mas, sim, de “mutilação, amputação”, pois este é o significado da palavra “katatomé”
(κατατομή), motivo por que se deve preferir seja a expressão “falsa circuncisão”, utilizada pela Versão
Almeida Revista e Atualizada e pela Nova Versão Internacional ou, ainda, “falsos circuncidados”, utilizada
pela Tradução Brasileira e pela Bíblia de Jerusalém. “…A palavra aqui empregada pode significar apenas
‘falsa circuncisão’. Esses reivindicavam para si mesmos o título de ‘circuncisão’, com o que queriam dar a
entender que eram o verdadeiro povo de Deus, os herdeiros da provisão do pacto abraâmico, dentro do qual o rito da circuncisão era o sinal oficial da identificação do povo de Deus. No entanto, segundo a opinião de Paulo, não mereciam ser chamados de ‘a circuncisão’; por isso é que o apóstolo lançou mão de um termo diferente, para mostrar que tão somente se sujeitavam a uma operação física, mas sem que isso tivesse qualquer valor espiritual.…” (CHAMPLIN, op.cit., v.5, p.44).
OBS: “…Por um jogo de palavras, em tom de desprezo, Paulo assimila a ‘circuncisão’ carnal dos judeus às ‘incisões que jorravam sangue, dos cultos gentílicos (ver I Rs.18:28 cfr. Gl.5:12).…” (BÍBLIA DE JERUSALÉM, nota d a Fp.3:2, p.2051).
- Segundo alguns estudiosos, esta continuidade da carta de Paulo aos filipenses, que compõe a parte prática da epístola, teria sido motivada precisamente pela notícia de que haviam chegado a Filipos alguns “judaizantes” que, aproveitando o fato da prolongada prisão do apóstolo, estariam ali para perturbar a fé daqueles crentes e levá-los à observância da lei mosaica.
OBS: “…Aparentemente, existia um problema com os judaizantes em Filipo semelhante ao que havia na Galácia(…). Na realidade, creio que
este era a principal causa de dissensão em Filipo. Alguns creem, pela mudança de tom no v.1, que Sha’ul [Paulo, observação nossa] tinha a intenção de encerrar a carta por aqui, no entanto, tendo recebido a notícia repentina de nova atividade entre os judaizantes, teria respondido com o alerta categórico a seguir. Acredito, porém, que ele já estava decidido a escrever-lhes de novo as mesmas coisas (ou seja, sua exortação à humildade do capítulo 2), reafirmando a mesma coisa de forma negativa, como uma advertência para não se gloriar, uma vez que a humildade exclui o orgulho. Além disso, assim como ele usou o Messias como o supremo exemplo (2:5-11), ele agora usa os orgulhosos judaizantes como um
exemplo negativo (vv.2-9).…” (STERN, David H. Trad. de Regina Aranha et alii. Comentário judaico do Novo Testamento, p. 647).
- Na vida cristã, devemos fugir também da religiosidade externa, daquela religiosidade apenas de
aparência, que nos tornará fariseus mas não verdadeiros servos de Cristo Jesus. O apóstolo, inclusive no uso de um termo diferente para se referir à “circuncisão”, quer mostrar aos filipenses que o que importa na vida com Cristo não é a aparência, mas, sim, a presença de uma verdadeira imitação de Jesus, de uma vida de humildade e de comunhão com o Senhor, independentemente de aparência exterior.
- A questão relativa à observância da circuncisão por parte dos crentes gentios já tinha motivado o concílio de Jerusalém (At.15), ocasião em que se decidira que os cristãos não estavam submetidos à lei de Moisés e, portanto, não deveriam observar seus rituais. Naquela mesma reunião da Igreja, apenas se disse que os gentios estavam sujeitos aos chamados “sete preceitos dos descendentes de Noé”, ou seja, às ordenanças estatuídas por Deus após o dilúvio, que havia abrangido a todas as nações (compare Gn.9:1-17 com At.15:28,29).
- Ora, a circuncisão, embora anterior à lei mosaica (Gn.17:23-27), era posterior a esta ordenança estatuída a todas as nações e, portanto, estava relacionada com a nação israelita e não com os demais gentios, motivo pelo qual não era de observância obrigatória para os cristãos gentios.
- A vida cristã traz uma nova circuncisão, que é a “circuncisão do coração”, que já era, inclusive, prevista
na lei de Moisés (Dt.10:16) e nos profetas (Jr.4:4), da qual a circuncisão carnal era apenas uma figura, uma
sombra, que nada valeria sem que se tivesse a outra. Mais do que os varões recortarem os seus prepúcios, o que Deus exigia, tanto de homens quanto de mulheres, é que retirassem os “prepúcios de seus corações”, que não endurecessem a sua cerviz, ou seja, que se submetessem à vontade de Deus e fossem tementes ao Senhor.
- É precisamente isto que ensina o apóstolo aos filipenses, dizendo que “a circuncisão somos nós, que
servimos a Deus em espírito, e nos gloriamos em Jesus Cristo e não confiamos na carne” (Fp.3:3).
- Quando o apóstolo fala que “a circuncisão somos nós”, vemos, por primeiro, que se utiliza da palavra que
realmente significa “circuncisão”, ou seja, a palavra grega “peritomé” (περιτομή), para, precisamente, reforçar que está a falar, agora, da real, autêntica e verdadeira circuncisão e não do simulacro levado a efeito pelos “judaizantes”.
- “…nós somos os circuncisos espiritualmente, nós ‘com coração e ouvidos circuncisos’ (…), nós, os que
tivemos os prepúcios ‘de nossa velha natureza’ removidos (…), nós que adoramos pelo Espírito de Deus e
que fazemos do Messias Yeshua nossa confiança! Não confiamos em qualificações humanas (vv.4-9),
literalmente, ‘não(…) na carne’, não em ‘uma circuncisão (…) feita por mãos humanas’ (Cl.2:11)…”
(STERN, David H. op.cit., p.648) (negrito original).
- O apóstolo mostra aos crentes de Filipos que a verdadeira circuncisão, ou seja, a verdadeira aliança, o
verdadeiro comprometimento com Deus advém de um serviço ao Senhor em espírito, ecoando, assim, as
palavras do Senhor Jesus à mulher samaritana, que diziam que o Pai estava à procura de verdadeiros
adoradores, que adorassem o Pai em espírito e em verdade (Jo.4:23,24).
- Esta é a verdadeira adoração que caracteriza os genuínos e autênticos servos do Senhor, uma adoração em espírito e em verdade, ou seja, um serviço a Deus que vem de dentro para fora, que começa com a comunhão nossa com o Senhor, feito pelo perdão dos pecados pela fé em Jesus Cristo, que nos une a Deus (Rm.5:1) e faz com que passemos a andar segundo o espírito e não mais segundo a carne (Rm.8:1).
- A verdadeira circuncisão é uma aliança que se firma entre nós e Deus, a partir da fé em Cristo Jesus, que faz servir a Deus, a ter, preliminarmente, confiança em Deus e uma boa consciência, uma consciência sem ofensa diante de Deus e dos homens (At.23:1; 24:16), uma consciência que testifique que estamos a viver neste mundo com simplicidade e sinceridade de Deus, não com sabedoria carnal, mas na graça de Deus (II Co.1:12).
- Paulo demonstra a todos nós que o que importa, na vida cristã, é estarmos a servir a Deus, incentivados e
estimulados por uma profunda convicção interior, resultado de uma profunda atenção à vontade de Deus, com total atenção ao que nos fala o Espírito Santo ao nosso espírito, para que, assim, realizemos aquilo que o Senhor deseja em nossas vidas.
- Para tanto, torna-se absolutamente necessário que confiemos em Deus, que tenhamos fé e que, apesar de
todas as dificuldades e vicissitudes nesta vida sobre a face da Terra, prossigamos buscando agradar a Deus, pois cremos que Ele existe e é galardoador dos que O buscam (Hb.11:6).
- Lamentavelmente, não são poucos os que se contentam apenas em apresentar um estereótipo, uma imagem externa de cristianismo, preocupando-se apenas na “mutilação do corpo”, ou seja, no seguimento de rituais e cerimônias, para se apresentarem como “santos”, quando, na verdade, não passam de “sepulcros caiados” (Mt.23:25-28). São os “modernos fariseus”, que não abandonam o pecado e acrescentam à vida pecaminosa a hipocrisia religiosa. Tomemos cuidado, amados irmãos, para não sermos mais uns destes!
- O verdadeiro e genuíno servo do Senhor, além de servir a Deus em espírito, também se gloria em Jesus
Cristo. Tudo quanto faz é para a glória de Deus Pai, assim como o Senhor Jesus, que Se humilhou e depois foi exaltado única e exclusivamente para glorificar ao Pai (Jo.17:4; I Co.15:28). Por isso, o verdadeiro cristão, quando pratica boas obras, leva à glorificação do Pai (Mt.5:16).
- Neste gloriar é que encontramos mais uma evidência de quem serve a Deus e de quem não O serve. Em
nossos dias, não são poucos aqueles que procuram a glória para si, esquecidos de que Deus não reparte a Sua glória com ninguém (Is.42:8).
- Muitos, em nossos dias, estão a querer se utilizar até do Senhor Jesus para auferirem glória para si. Tudo
quanto fazem é para seu próprio enaltecimento, para a sua fama, para seu engrandecimento, para seu
benefício. Nada mais anticristão! Tudo deve ser feito para a glória de Deus Pai. Foi assim que fez o Senhor
Jesus, é assim que devem fazer os Seus discípulos.
- O culto à personalidade tem invadido o ambiente das nossas igrejas locais e proliferam aqueles que querem ter em torno de si discípulos, que querem ter seguidores, em vez de se portarem como meros pastores que estão conduzindo o rebanho ao encontro de Jesus, em vez de terem como objetivo glorificarem o nome do Pai e de levarem todos a ficar em torno do Senhor Jesus.
- Os judaizantes não tinham outro objetivo senão se gloriarem a si mesmos na carne daqueles que aceitavam se circuncidar, como Paulo já havia advertido os gálatas (Gl.6:13). Esta é a finalidade dos “mandamentos de homens” (Is.29:13; Mc.7:7; Tt.1:14) que, vez por outra, exsurgem no meio da Igreja, regras que têm por
escopo tão somente mostrar o “poder” e a “influência” deste e daquele, mas que nada servem para nos levar à presença de Deus.
- Aliás, esta auto glorificação era mais uma das características dos fariseus que causavam ojeriza em Cristo
Jesus, como denuncia o Mestre em seu mais duro discurso proferido durante Seu ministério terreno,
precisamente contra este tipo de religioso hipócrita (Mt.23:5).
- Estes “falsos circuncidados” nada mais fazem senão levar o povo de Deus para longe do Senhor,
apresentando uma vã e falsa adoração a Deus, visto que não servem ao Senhor mas a si próprios, ao seu ego, sendo pessoas que se desviaram da verdade, se é que alguma vez a receberam. Portanto, fujamos de toda e qualquer atitude de religiosidade externa, de moderno farisaísmo, para que não percamos a salvação assim como os que defendem e estimulam tal atitude hipócrita.
- Quem serve genuinamente a Deus também não confia na carne. O princípio da confiança do cristão é a
confiança em Cristo Jesus. A nossa fé em Jesus nos justifica e nos faz entrar em comunhão com Deus.
Somente se retivermos este princípio da confiança até o fim é que seremos participantes de Cristo e, assim,
membros de Seu corpo e candidatos a morarmos com Ele eternamente nos céus (Hb.3:14).
- Quando, porém, deixamos de confiar em Jesus para confiarmos na carne, ou seja, em nossa natureza
pecaminosa, em nosso velho “eu”, não mais agradamos ao Senhor e pomos em risco a nossa salvação,
“…porque a inclinação da carne é morte (…) porquanto a inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem, em verdade, o pode ser. Portanto, os que estão na carne, não podem agradar a Deus” (Rm.8:6-8).
- A nossa natureza pecaminosa, herdada de nossos primeiros pais, não pode herdar o reino de Deus (I
Co.15:50), de modo que jamais podemos confiar nesta natureza para servirmos ao Senhor. Muitos estavam a pregar a Cristo por inveja, porfia, contenção, ou seja, eram movidos pela carne para tanto, mas, ainda que pessoas estivessem se convertendo com tal atitude, por eles confiarem na carne estavam fadados à perdição com tais atitudes.
- Muitos, atualmente, estão a confiar na carne e levam uma vida supostamente espiritual, crendo que, mais dia, menos dia, por sua “insistência” e “constância” na frequência a cultos, em uma vida religiosa, alcançarão a misericórdia divina e a salvação de suas almas. Afinal de contas, seriam “pessoas de bem”, “pessoas
piedosas”, “pessoas de boa índole”.
- Nada mais enganoso, porém, visto que as obras não salvam pessoa alguma, muito menos obras motivadas pela carne, pela natureza pecaminosa, que leva a um desagrado de Deus.
- Em nossos dias, muitos obreiros têm permitido indevidamente a participação no meio da igreja local de
pessoas que não deram quaisquer frutos de arrependimento, pessoas que não demonstram qualquer conversão, mas que se encontram no meio dos salvos em Cristo Jesus por circunstâncias as mais variadas, como laços de parentesco, costume, hábito e tantas outras coisas.
- Tal atitude revela, nestes obreiros, uma confiança na carne, uma confiança nas circunstâncias estabelecidas, como se a frequência a cultos, o costume e o hábito de participação nas reuniões da congregação, a familiaridade, o tempo decorrido fossem fatores que levassem à conversão, à transformação da vida.
- Contudo, o apóstolo faz questão de dizer que a confiança na carne não caracteriza um verdadeiro e autêntico servo de Deus e, para tanto, dá-se como exemplo para mostrar que isto é absolutamente inútil e até prejudicial mesmo a uma vida espiritual.
- O apóstolo mostra que se alguém cabia confiar na carne, este alguém teria de ser o próprio Paulo. Afinal de contas, ele era “judeu da gema”, havia sido circuncidado ao oitavo dia, conforme o mandamento (Gn.17:12), sendo da linhagem de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu de hebreus e que, ainda por cima, havia sido um fariseu exemplar (Fp.3:5).
- Paulo estava mostrando aos filipenses que, diante destas credenciais judaicas, se ele confiasse na carne, teria sido ele o primeiro a exigir daqueles crentes a observância da lei mosaica quando lhes pregou o Evangelho em Filipos. No entanto, em momento algum, fez qualquer referência à lei, apesar de ser uma pessoa circuncidada, que provinha de genuína linhagem de Israel, e que, como se não bastasse a sua origem, ainda havia seguido a mais rigorosa de todas as seitas judaicas, o farisaísmo, que não só cumpria os 613 mandamentos da lei mosaica, mas também havia criado um sem-número de outros mandamentos (Mt.23:4).
- Mas Paulo vai além e mostra que, caso confiasse na carne, jamais poderia ser um cristão, pois, antes de sua conversão, havia sido extremamente zeloso a ponto de perseguir a própria Igreja, fato que não o impedia, aliás, de ser visto como justo e irrepreensível aos olhos da “justiça que há na lei” (Fp.3:6).
- Assim, o que o apóstolo mostra aos crentes de Filipos é que, quando se confia na carne, quando se
procura servir a Deus mediante o atendimento à nossa natureza pecaminosa, o resultado outro não é
senão o de nos tornarmos inimigos de Cristo, de nos tornarmos perseguidores da Igreja, que é o povo de
Deus, que é o próprio corpo de Cristo, como, aliás, mais adiante falará de modo mais minudente, como
haveremos de estudar na lição 9.
- Quem anda segundo a carne não agrada a Deus e, por isso mesmo, torna-se inimigo de Deus, pois a carne é antagônica ao senhorio de Cristo, é oposta à comunhão com o Senhor. Não podemos, pois, de forma alguma, confiarmos na carne, se realmente queremos participar da vida eterna com o Senhor Jesus. Pensemos nisto!

III – A OPÇÃO DO APÓSTOLO QUE DEVIA SER SEGUIDA PELOS CRENTES FILIPENSES
- Paulo, ao se pôr como exemplo para os crentes de Filipos, mostra, claramente, que a justiça que há na lei” não é o critério para que alguém seja considerado salvo. A salvação não vem pela observância da lei e, sim,
pela graça de Deus, por meio da fé, que é um dom de Deus (Ef.2:8).
- O que verificamos aqui é que o apóstolo Paulo recusa que “a justiça que há na lei” possa trazer alguma
salvação a quem quer que seja. Como já ensinara aos gálatas, Paulo reforça o ensino de que a lei, embora
seja justa, santa e boa (Rm.7:12), não salva, mas, antes, condena o homem à perdição, visto que ninguém
nunca conseguiu cumprir a lei (Gl.3:11) e quem transgride um dos pontos da lei, é transgressor de todos eles (Tg.2:10).
- Como ensina o teólogo escocês James D.G. Dunn (1939 - ): “…A lei é usada pelo poder do pecado para enganar a fraqueza humana da carne. Se relacionarmos isso com o juízo errôneo de Israel com respeito à lei, poderíamos dizer que para Paulo o apego de Israel à sua posição privilegiada era em si mesmo exemplo
clássico de como o pecado abusa da lei e aproveita a fraqueza da carne para introduzir a humanidade na
conexão pecado e morte. Como o pecado transforma o ‘desejo’ em ‘concupiscência’, assim também o pecado que transformou a lei em gramma [dívida, nota de cobrança, observação nossa] para Israel. Foi a lei concentrada na exigência da circuncisão na carne que deu ao pecado a oportunidade de pôr Israel numa
perspectiva carnal.…” (DUNN, James D.G. Trad. de Edwino Royer. A teologia do apóstolo Paulo, p.202).
- Quem quer se prevalecer através da “justiça que há na lei” acaba perdendo a sua salvação, pois a lei
não salva pessoa alguma. Paulo, mesmo tendo sido zeloso pela observância da lei, havia se tornado um meroperseguidor da Igreja, um inimigo de Cristo enquanto quis pautar a sua vida pela lei e, por isso, repudiava toda e qualquer conduta que alguém que cristão se dissesse ser que se baseasse na observância da lei.
- Hoje em dia, têm ganhado força movimentos que buscam seguir a observância da lei entre os que cristãos se dizem ser, movimentos que não se reduzem ao sabatismo, mas que têm novas versões, como as daqueles que buscam retomar a celebração de festividades judaicas ou rituais e cerimoniais judaicos. Tudo isto é
extremamente perigoso, é a busca de uma “justiça que há na lei”, algo que leva, inevitavelmente, à perdição.
Tomemos cuidado com isto, amados irmãos!
- Paulo diz aos filipenses que eles deveriam seguir o Seu exemplo e, portanto, não se firmar na “justiça que há
na lei”, como queriam convencê-los os judaizantes que se apresentavam naquela igreja, provavelmente
animados com o abalo na esperança e na fé daqueles crentes diante da prolongada prisão do apóstolo.
- Antes, o apóstolo considerou que tudo quanto havia obtido por intermédio da lei, tudo quanto havia
conseguido na sua vida farisaica, representava para ele mero “esterco” (Fp.3:8), como “perda” (Fp.3:7), pois para o apóstolo o ganho era tão somente Cristo.
- A base da conduta do cristão, para o apóstolo Paulo, não poderia ser a lei, mas, sim, um tripé, a saber:
a fé, o Espírito e o próprio Cristo. Como afirma o teólogo James D.G. Dunn: “…já sugerimos que os
princípios fundamentais da ética de Paulo podem ser resumidos em termos que refletem diretamente as ênfases do seu evangelho: justificação pela fé, participação em Cristo e dom do Espírito.…” (op.cit., p.74).
- Somente sendo justificados pela fé em Cristo Jesus, ingressando, por isso, no corpo de Cristo e recebendo o Espírito Santo, o cristão pode ter um comportamento que seja agradável a Deus. Por isso, Paulo, ao crer em Jesus, ao ingressar na Igreja e a receber o Espírito Santo, não tinha mais relação alguma com tudo aquilo que havia praticado no passado, era uma nova criatura.
- A irrepreensibilidade de sua conduta com base na lei o havia tornado tão somente um perseguidor da Igreja, um inimigo de Cristo. Agora, como havia abandonado tudo aquilo, pela salvação, tudo aquilo não era senão perda, senão “esterco”. Esta palavra, no original grego, é “skubálon” (σκύβαλον), que tem o significado de “lixo, esterco, refugo”.
- O que o apóstolo quis indicar com o uso desta expressão para representar aquilo que dava tanto valor antes de sua salvação? Como diz Champlin: “…Sem importar o que Paulo tivesse querido dizer exatamente, o inegável é que a declaração é perfeitamente enfática. Tudo quanto os elementos legalistas consideravam
dotado de grande valor, tudo quanto propagavam como tal, no seio da igreja cristã, o apóstolo dos gentios
reputava inútil e repugnante, como lixo que pode ser lançado aos cães, como refugo lançado no monturo…” (op.cit., v.5, p.49).
- Para que possamos ter uma vida verdadeiramente cristã, torna-se necessário que rompamos com o
que fazíamos no passado, que deixemos de dar valor àquilo que era para nós extremamente valioso antes de conhecermos a Cristo. Jesus deve ser a nossa razão de viver, não mais devemos viver mas, sim, permitir que Cristo viva em nós (Gl.2:20). É isto que nos diz o apóstolo. Será que é isto que temos observado em nossas vidas?
- Nos dias hodiernos, não são poucos os que querem prevalecer a sua condição de cristãos precisamente com as coisas que faziam antes. Não são poucos os que querem mostrar a sua condição de verdadeiros e genuínos servos de Deus fazendo ecoar o que faziam antes e, pasmem todos, até voltando a fazer o que faziam antes.
- Paulo afirma aos filipenses que eles jamais seriam cristãos verdadeiros se continuassem a dar valor a coisas que não têm valor, a coisas que já haviam sido superadas pela nossa salvação em Jesus. Se não tomamos por sem nenhum valor aquilo a que dávamos valor antes de nossa salvação, de maneira alguma poderemos ser - Como observa Champlin, “…para alguém ganhar o verdadeiro ‘ganho’ é mister desfazer-se do ‘refugo’ que antes reputava como lucro. Assim fez Paulo. Portanto, ‘ganhar a Cristo’ é equiparado com a participação em
Sua ressurreição, em sua forma de vida eterna (…), em Suas perfeições (…), em Seu prêmio eterno da vida
imortal, a completa salvação, por cuja causa Cristo o tinha conquistado…” (op.cit., v.5, p.49).
- Será que temos tido a Jesus Cristo como nosso ganho? Ou será que ainda não abandonamos a nossa “vida velha” e continuamos a dar valor àquilo que não tem valor algum?
- Paulo considerou que “todas as coisas” lhe foram consideradas como “perda” pela excelência do
conhecimento de Cristo Jesus, a quem considerava seu Senhor, pelo qual havia perdido todas estas coisas
(Fp.3:8).
- Será que temos este mesmo sentimento? Paulo dizia aos filipenses que eles deveriam desconsiderar todas as coisas desta vida e preferir a “excelência do conhecimento de Cristo Jesus”, ou seja, a intimidade cada vez maior com Jesus, até porque Ele é nosso Senhor, e, portanto, devemos obedecer-Lhe, cumprir a Sua vontade.
- Contudo, não são poucos os que cristãos se dizem ser que vivem exatamente o contrário do que aqui se
preconiza. Não deixam as coisas deste mundo, nem se interessam em se aproximar cada vez de Cristo. Pelo
contrário, querem se apegar às coisas passageiras e ilusórias desta vida, mantendo uma distância cada vez
maior de Cristo, já que, para se ter a “excelência do conhecimento de Cristo”, torna-se necessário se dedicar a
uma vida de oração, de meditação nas Escrituras, de busca do poder de Deus. Como é que estamos, amados irmãos?
- Para assim agir, temos de tomar a “justiça que vem pela fé”, ou seja, devemos confiar em Cristo, abrir
mão de todas as coisas, renunciar a todas as coisas e seguir o caminho de Cristo, confiando que, ao final,
alcançaremos a salvação.
- Ir após Jesus, ter uma vida cristã é negar-se a si mesmo, tomar a cruz e segui-l’O (Mc.8:34; Lc.9:23) e isto jamais será feito se nós não O conhecermos, à virtude de Sua ressurreição e à comunicação de Suas aflições, sendo feitos conforme à Sua morte (Fp.3:9,10).
- Para que imitemos o apóstolo Paulo, torna-se imperioso que, por primeiro, conheçamos a Cristo, ou seja,
tenhamos intimidade com Ele, a tal ponto que não mais vivamos, mas Ele viva em nós (Gl.2:20).
- Ora, ter intimidade com Jesus a este ponto é desenvolver um relacionamento cada vez mais estreito com o
Senhor Jesus, o que somente é possível se buscarmos o reino de Deus e a sua justiça (Mt.6:33). Isto exige uma vida cada vez mais intensa de oração, de meditação nas Escrituras e de busca do poder de Deus.
- Entretanto, muitos, na atualidade, têm preferido a religiosidade exterior, a mera frequência a cultos, a
membresia formal em uma igreja local, a assunção de alguns comportamentos externos, algo muito, mas muito diverso mesmo do que está a nos ensinar o apóstolo Paulo.
- Mas, além de “conhecer” a Cristo, temos também de experimentarmos a “virtude da Sua
ressurreição”, ou seja, temos de ser provas vivas de que Cristo ressuscitou e que, com Sua ressurreição,
venceu o pecado e a morte. Temos de ter uma nova vida, uma vida transformada, que demonstre cabalmente que, com a Sua ressurreição, Cristo efetivamente salvou a humanidade.
- Somente experimentaremos a “virtude da ressurreição de Cristo”, se morrermos para o mundo e vivermos
única e exclusivamente para Cristo. É isto, aliás, o que é simbolizado no ato do batismo das águas. Somente se nossos corpos passarem a ser instrumentos de justiça e não mais de pecado é que poderemos “conhecer a virtude da ressurreição de Cristo” em nossas vidas (Rm.6:4-19).3º Trimestre de 2013 – Filipenses – a humildade de Cristo como exemplo para a Igreja
- Mas Paulo também nos convida a que conheçamos a “comunicação de Suas aflições”, ou seja, nossa
comunhão com o Senhor Jesus faz com que também participemos de Suas aflições. Devemos, também, sofrer por causa de Cristo enquanto estivermos neste mundo, o que é algo inevitável e natural, já que, por estarmos em comunhão com o Senhor, o mundo nos aborrece (Jo.15:18,19).
- Não foi por outro motivo que o Senhor Jesus disse que no mundo teríamos aflições (Jo.16:33). Uma vez em comunhão com o Senhor, tornamo-nos um “corpo estranho” neste mundo que, em razão disso, passa a nos atacar, a querer nos expelir, a querer nos destruir.
- Vemos aqui, portanto, como mentem os arautos da teologia da confissão positiva e da teologia da
prosperidade. É precisamente porque estamos em comunhão com Deus que passamos por aflições neste
mundo, é este um sinal indicativo de nossa salvação, bem ao contrário do que afirmam estes falsos mestres. A falta de oposição do mundo a nós é fator que deve nos inquietar, pois não estaremos tendo a experiência das aflições de Cristo (Lc.6:26).
- Paulo mostra como a sua prisão representava esta comunicação nas aflições de Cristo. Desta maneira, ao
invés de isto demonstrar uma fraqueza do apóstolo ou uma possível desaprovação divina ao seu modo de
pregar o Evangelho, o que poderia estar sendo explorado pelos judaizantes que tumultuavam a fé dos
filipenses, era este, sem dúvida, um fator inegável de que o trabalho do apóstolo era aprovado por Deus, pois ele estava se fazendo participante das aflições de Cristo, como deve ocorrer com todo aquele que tem uma vida cristã genuína e autêntica.
- Por fim, o apóstolo diz que devemos, na vida cristã, sermos feitos conforme à morte de Cristo. Paulo aqui
repete o tema já tratado quando dissertara a respeito da “kenosis” de Cristo. Se não morrermos como Cristo, se não nos submetermos, por obediência, até a morte, se não tomarmos o vitupério de Cristo, de modo algum poderemos ter a Sua glorificação: “…se é certo que com eEe padecemos, para que também com Ele sejamos glorificados” (Rm.8:17).
- Não há como chegarmos ao trono de glória nos céus se não passarmos antes pela cruz do Calvário. A
glorificação é precedida da humilhação. Lembremos sempre disto!
- Os conselhos dados pelo apóstolo Paulo aos filipenses são extremamente atuais, pois revelam o que é a vida cristã, são a Palavra de Deus, que não muda com o tempo. Se realmente queremos chegar ao céu, se queremos ter uma vida cristã genuína, não podemos deixar de observar o que o apóstolo ensina aos seus queridos irmãos de Filipos. Será que temos observado estas recomendações? Pensemos nisto!

Colaboração para o Portal Escola Dominical -Ev. Dr. Caramuru Afonso Francisco

LIÇÃO 06 – A FIDELIDADE DOS OBREIROS DO SENHOR

LIÇÃO 06 – A FIDELIDADE DOS OBREIROS DO SENHOR - 3º TRIMESTRE 2013
(Fp 2.19-29)

INTRODUÇÃO
Zeloso pela santidade, doutrina e administração da igreja em Filipos, o apóstolo Paulo em (Fp 2.19-29) intenta enviar dois destacáveis obreiros de sua extrema confiança, a saber: Timóteo seu filho na fé, e também, o irmão e cooperador Epafrodito, que fôra enviado pela igreja de Filipos para assistir Paulo em suas necessidades.
Nesta lição,apontaremos as virtudes de Timóteo, como também o perfil do obreiro Epafrodito, e por fim, pontuaremos duas importantes características que, na perspectiva paulina, aquele que coopera na obra do Senhor deve possuir.

I - DEFINIÇÕES
1.1 Fidelidade. O Aurélio diz que esta palavra significa: “qualidade de fiel; lealdade. Constância, firmeza nas afeições, nos sentimentos; perseverança. Observância rigorosa da verdade; exatidão”. O termo em hebraico é 'emunah cujo significado básico é “certeza” e “fidelidade”. O homem pode mostrar-se “fiel” em suas relações com os membros da raça humana (I Sm 26.23). Mas, geralmente, a Pessoa a quem se é “fiel” é o próprio “Senhor (II Cr 19.9). As traduções da Septuaginta (Tradução grega do Antigo Testamento) são: aletheia “veracidade, confiança, probidade; verdade, realidade” e pistos “fidedignidade, fidelidade, confiabilidade, descanso, confiança, fé” (VINE, 2002, p. 128).
1.2 Obreiro. O Aurélio diz que significa: “obrador, operário”. Esta palavra pode ser definida também como “aquele que coopera no desenvolvimento de uma empresa ou de uma ideia” (BOYER, 1966, p. 547). No grego o termo é ergates, “trabalhador”, “obreiro” deriva-se do termo ergon que denota “trabalho, ação, ato”. Em Fp 2.25; Fm 1.24, é usado o termo sunergos, “cooperador”; em Fp 4.3, o plural “cooperadores”; em I Co 3.9, “cooperadores (de Deus)”, ou seja, trabalhadores pertencentes e servindo a Deus; em I Jo 3.8, “cooperadores (da verdade)” (VINE, 2002, pp. 827,1029).

II – O ZELO PASTORAL DE PAULO PELA IGREJA DE FILIPOS
“E espero no Senhor Jesus que em breve vos mandarei Timóteo, para que também eu esteja de bom ânimo,
sabendo dos vossos negócios” (Fp 2.19). Nesse texto, Paulo deixa transparecer o interesse de um zeloso pastor pela igreja. A expressão “zeloso” no grego zeloõ significa: “ser zeloso, ter ciúmes”. O apóstolo zelava pela Igreja com zelo de Deus, como ele mesmo afirma aos coríntios (II Co 11.2). Vejamos algumas coisas pelas quais Paulo ardia em zelo:
2.1 Pela santidade da Igreja. O apóstolo Paulo procurava sempre se informar acerca das igrejas que já haviam se estabelecido. Baseado nestas informações, ele escrevia cartas com o objetivo ensinar e corrigir os cristãos quanto a sua conduta como servos de Deus. Sendo informado dos últimos acontecimentos na comunidade cristã em Filipos, que lhe trouxe preocupações, o apóstolo lhes escreve a fim de tratar de alguns problemas que haviam nesta igreja, tais como: “orgulho” (Fp 2.5-11); “murmurações e contendas” (Fp 2.14); a fim de que “permanecessem firmes” (Fp 2.16).
2.2 Pela doutrina. Na igreja de Filipos estavam surgindo heresias que vinham sendo pregadas por gentios a quem o apóstolo chama de “cães” (Fp 3.2-a); de “maus obreiros” (Fp 3.2-b); e também pelos judaizantes, a quem ele se refere como “circuncisão” (Fp 3.2-c). O apóstolo lhes fala verdades já conhecidas para que eles tivessem segurança no que haviam crido, os exortando a “guardar-se” daqueles que tentavam perverter a verdade do evangelho (Fp 3.1).
2.3 Pela administração do trabalho. Em Fp 2.19-30 o apóstolo dá início a uma nova e importante etapa na Carta aos Filipenses, enquanto Paulo deixa de enfocar a si mesmo e aos cristãos filipenses, e passa a dar destaque as duas pessoaschave que se unem a ele em Roma: Timóteo e Epafrodito. Após pregar o evangelho nas cidades, o apóstolo Paulo costumava deixar obreiros para cuidar do rebanho (I Tm 1.3; Tt 1.5). Para a igreja em Filipos, o apóstolo tinha a intenção de enviar Timóteo e Epafrodito, dois obreiros de sua confiança, a fim de saber a real situação daquela igreja e para que, sob a sua autoridade, corrigissem alguma coisa anormal que estivesse acontecendo (Fp 2.19,25).

III – VIRTUDES DO OBREIRO TIMÓTEO
Era desejo de Paulo enviar o obreiro Timóteo para dar assistência no trabalho em Filipos, porém ele o faria assim se o Senhor permitisse “espero no Senhor Jesus” (I Tm 2.19-a). A cerca de Timóteo, a Bíblia nos informa que ele era um bom exemplo do que um um obreiro deve ser: (1) Era um estudante zeloso e obediente a Palavra de Deus (II Tm 3.15); (2) um servo perseverante e digno de Cristo (I Ts 3.2); (3) um homem de boa reputação (At 16.2); (4) amado e fiel (I Co 4.17); e (5) companheiro dedicado a Paulo e ao evangelho (2 Tm 4.9,21-22; Rm 16.21). Vejamos algumas outras considerações de Paulo acerca de Timóteo:
3.1 “Porque a ninguém tenho de igual sentimento, que sinceramente cuide do vosso estado” (Fp 2.20). Podemos observar claramente neste versículo a alta estima e consideração que o apóstolo nutria pelo obreiro Timóteo. Ele chega a dizer que não havia ninguém mais que compartilhasse um espírito familiar com ele (ou “como ele”), cujo termo utilizado é isapsychos; literalmente, “de mesmo sentimento” ou “com o mesmo sentimento na alma”. Ou seja, ambos tinham a mesma perspectiva e visão quanto se tratava da igreja de Filipos. Em (Fp 2.21) Paulo contrasta a atitude de Timóteo com a de outros cristãos que, provavelmente seja aqueles a quem o apóstolo se refere que pregavam a Cristo com porfia (Fp 1.15,16). Dos que estavam com Paulo, somente Timóteo e Epafrodito se mostraram capazes e dispostos a atender a
obra do Senhor (Fp 2.19,25).
3.2 “Mas bem sabeis qual a sua experiência, e que serviu comigo no evangelho, como filho ao pai” (Fp 2.22) . O apóstolo lembra aos crentes filipenses que Timóteo era um obreiro que tinha “experiência”, ou seja, ele foi provado e resistiu ao teste. Timóteo “serviu comigo no evangelho” diz Paulo. A palavra “serviu” usada neste texto está relacionada ao termo grego “doulos” (se lê dulos), fazendo alusão ao próprio caráter que Jesus assumiu em sua encarnação (Fp 2.7). Ainda há de se ressaltar que o comprometimento de Timóteo não foi somente com Cristo e com o evangelho, mas também com Paulo “e que serviu comigo no evangelho, como filho ao pai”. É dessa forma que Paulo trata Timóteo nas epístolas que lhe foram dirigidas (I Tm 1.2; II Tm 1.2).

IV – O PERFIL DO OBREIRO EPAFRODITO
4.1 “Julguei, contudo, necessário mandar-vos Epafrodito, meu irmão e cooperador” (Fp 2.25-a). Epafrodito era um cristão da cidade de Filipos, mencionado apenas em (Fp 2.25-30; 4.18). Não se sabe ao certo se este homem era um dos líderes da igreja em Filipos ou simplesmente um discípulo comprometido com Cristo. Sabemos apenas que Paulo sente fortemente que deveria enviá-lo de volta como portador desta carta, pois assim como a Timóteo, também nutria muita consideração por este homem de Deus a quem chama de “meu irmão e cooperador”.
4.2 “e companheiro nos combates” (Fp 2.25-b). A referida expressão quer dizer também “companheiro de armas”, que era um dos títulos favoritos dos cristãos primitivos, o qual envolve a ideia de estar em conflito espiritual contra as trevas e o mal, correndo o risco de perder a vida (CHAMPLIN, 2002, p. 40). Epafrodito manteve-se ao lado de Paulo defendendo a causa do Seu grande Capitão, o Senhor Jesus. Epafrodito ficou gravemente enfermo talvez durante o percurso da viagem de Filipos a Roma para trazer a oferta para Paulo (Fp 2.26,27). No entanto, este fiel cooperador obteve melhora pela graça de Deus “mas Deus se apiedou dele” (Fp 2.27-b). Paulo enviou-o novamente a Filipos a fim de proporcionar alegria aos cristãos filipenses por sua recuperação (Fp 2.28-30).
4.3 “e vosso enviado para prover às minhas necessidades” (Fp 2.25-c). Esse nobre cooperador foi enviado pela igreja de Filipos “vosso enviado”, para levar uma oferta em apoio a Paulo “para prover às minhas necessidades”. Como tal, fez todo o possível por Paulo, sem dúvida, aquilo que os próprios filipenses tinham feito se o apóstolo estivesse em Filipos. Em relação a Paulo, Epafrodito foi aquele que prestou um serviço sacrificial para suprir as necessidades do apóstolo (Fp 2.30).

V - PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DO OBREIRO NA PERSPECTIVA PAULINA
5.1 Bom caráter. A expressão “caráter” significa: “o conjunto das qualidades boas ou más de um indivíduo que lhe determina a conduta – como a pessoa age” . Paulo escreve a Timóteo dizendo que aquele que almeja cooperar na obra do Senhor, excelente obra almeja (I Tm 3.1). No entanto, estará apto para esse serviço se além de ter a chamada divina, seja irrepreensível no seu caráter “Convém, pois, que...seja irrepreensível” (I Tm 3.2-a). Portanto, é imprescindível para aquele que coopera na obra de Deus possuir as qualificações morais que ela exige (At 6.3; I Tm 3.1-16; Tt 1.5-9).
5.2 Responsável. O Aurélio define a palavra “responsável” como: “que tem noção exata de responsabilidade; que se responsabiliza pelos seus atos; que não é irresponsável”. O serviço ao Senhor precisa ser feito com muita responsabilidade, visto que aquilo que fazemos e a maneira como realizamos será submetido a análise no Tribunal de Cristo, onde as obras dos salvos serão julgadas (Rm 14.10; I Co 3.13-15; II Co 5.10).

CONCLUSÃO
O apóstolo Paulo tinha em sua companhia homens de Deus sinceros, com os quais ele podia contar na
administração do trabalho do Senhor em Filipos. Timóteo e Epafrodito cujas virtudes são louváveis constituem-se para nós hoje verdadeiros exemplos de como devemos agir no serviço de Deus.

REFERÊNCIAS
· CHAMPLIN, R. N. Dicionário de Bíblia, Teologia e Filosofia. HAGNOS.
· STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD.
· ARRINGTON, French L.; STRONSTAD, Roger. Comentário Bíblico Pentecostal. CPAD

Publicado por Igreja Evangelica Assembleia de Deus em Recife - PE

LIÇÃO 05

LIÇÃO 05 – AS VIRTUDES DOS SALVOS EM CRISTO - 3º TRIMESTRE 2013
(Fp 2.12-18)

INTRODUÇÃO
Em Fp 2.12-18 encontramos preciosas exortações do apóstolo Paulo quanto ao correto procedimento, daqueles que foram salvos por Cristo Jesus. Nesta lição destacaremos algumas dessas admoestações, bem como também as virtudes que pelo Espírito Santo são implantadas naquele que nasce de novo.

I – EXORTAÇÕES PAULINAS AOS FILIPENSES
Diferente das muitas cartas de Paulo, Filipenses não foi escrita primeiramente devido a problemas específicos ou conflitos na igreja, embora ele venha tratar também de assuntos dessa natureza. No entanto, após falar sobre a humilhação e a exaltação de Cristo em (Fp 2.6-11), o apóstolo Paulo trás algumas importantes exortações aos cristãos filipenses a fim de que permanecessem em Cristo (Fp 2.12). A palavra “exortar” no grego parakaleõ quer dizer “admoestar, exortar,instigar”. Vejamos quais foram estas exortações:
1.1 “De sorte que, meus amados, assim como sempre obedecestes” (Fp 2.12-a). A expressão “meus amados” usada
pelo apóstolo deixa claro seu afeto pelos crentes de Filipos e em seguida os admoesta a obediência. Como podemos ver, essa reprimenda é suavizada por expressões de amor, pois a repreensão sem o tempero do amor, é destrutiva e não auxiliadora. O termo “obedecestes” vem do termo grego “upakouein”, que subentende a obediência em resultado do ouvir alguma ordem, no caso, dos mandamentos de Cristo, repassados por Paulo a todas as igrejas (I Co 14.37; I Ts 4.2).
1.2 “não só na minha presença, mas muito mais agora na minha ausência” (Fp 2.12-b). Esse texto deixa claro que Paulo estava exortando os cristãos filipenses a agirem com transparência, pois a verdadeira obediência se manifesta de forma incondicional e não apenas a vista (Ef 6.6). Enquanto aqueles irmãos obedeceram quando estavam na presença do apóstolo que era o seu pai espiritual, deveriam permanecer sujeitos aos mandamentos do Senhor muito mais agora que Paulo estava distante deles, pois a obediência é a demonstração do amor que temos para com Deus (Jo 14.23; I Jo 5.2,3).
1.3 “assim também operai a vossa salvação com temor e tremor” (Fp 2.12-c). A expressão “operai a vossa salvação” usada pelo apóstolo para com os crentes de Filipos, não indica que seja necessário algum tipo de trabalho complementar por parte do crente para que esta salvação seja efetiva, pois o homem é salvo pela graça de Deus independente das obras (Rm 11.6; Gl 2.16; Ef 2.8,9; Tt 3.5), embora seja salvo para as obras (Ef 2.10; Tg 2.24). Além disso deve ser destacado que para Paulo a salvação tem três sentidos distintos:
1.3.1 Salvação no tempo passado. Existe uma dimensão passada para a salvação:
a JUSTIFICAÇÃO – quando um indivíduo é declarado justo devido à sua fé em Cristo e é movido do domínio do pecado a uma posição de reconciliação com Deus (Rm 5.1; I Co 6.11).
1.3.2 Salvação no tempo presente. Há também uma dimensão presente para a salvação: a SANTIFICAÇÃO – o processo pelo qual o indivíduo cresce e cada vez mais se assemelha à imagem de Cristo. É nesse aspecto que o apóstolo se refere quando diz a expressão “operai”, pois no grego é katergadzomai, que significa: “produzir, conseguir, atingir”. Esta era a sua meta bem como ele exorta que seja a de todo salvo (Fp 3.13-16).
1.3.3 Salvação no tempo futuro. Existe também uma dimensão futura para a salvação: a GLORIFICAÇÃO – quando todos os propósitos de Deus na reconciliação serão cumpridos na Segunda Vinda de Cristo. Sem dúvida esse era o maior anseio do apóstolo (Fp 3.20,21).

II – A POSTURA DO SALVO NA IGREJA E NO MUNDO
2.1 Na Igreja. Como um pai espiritual dos crentes filipenses, o apóstolo Paulo continua exortando-os, desta vez especificamente reprovando as disputas e murmurações que estavam acontecendo entre eles “Fazei todas as coisas sem murmurações nem contendas” (Fl 2.14). A expressão “murmurações” no grego é “goggusmos” que quer dizer “queixume, desprazer, sussurros de descontentamento”. Está claro aqui que Paulo denuncia essa prática que sempre envenena as relações entre as pessoas. A murmuração no seio da igreja, causa descontentamento e desajustes, e geralmente se manifesta mediante ataques contra os líderes espirituais, provocando rebeliões. A nossa postura como salvos deve ser de viver em união e amor entre os irmãos (Sl 133; II Co 13.11), respeitando os nossos líderes (Hb 13.17).
2.2 No mundo. Após admoestar os irmãos de Filipos quanto ao comportamento do salvo na igreja, o apóstolo lhes fala sobre a sua conduta, postura ou testemunho no mundo (Fp 2.15). Testemunho cristão é a postura ética, que a Bíblia reivindica de cada um que professa o Nome de Cristo, numa demonstração clara e inequívoca de que, realmente somos seus discípulos (Mt 5.20). A palavra testemunho é oriunda do vocábulo latino “testimoniu” e significa, entre outras coisas: “prova”, “vestígio”, “indício”. No entanto, testemunhar, no aspecto cristão, não é apenas contar o que Deus fez, mas também, pregar através do exemplo pessoal, que realmente somos imitadores de Cristo (I Jo 2.6).
2.2.1 “Para que sejais irrepreensíveis e sinceros, filhos de Deus inculpáveis” (Fp 2.15-a). Essas duas expressões “irrepreensíveis e sinceros” dizem respeito a natureza “interna - sincero” e “externa - irrepreensível”, ou seja, internamente eles deveriam ser “puros”, “singelos”, “sem mistura”; e externamente deveriam ser “inculpáveis”, não tendo nenhum censura da parte de Deus e dos homens (II Co 8.21). Como filhos de Deus, devemos ser inculpáveis. No grego está o termo “amomos”, “sem culpa”, esta expressão é usada para indicar a ausência de qualquer defeito nos animais que deveriam ser sacrificados em holocausto, bem como para descrever o caráter puro de Cristo o Cordeiro de Deus (I Pe 1.19). Portanto, o mais elevado grau de pureza é requerido do salvo (II Co 6.6; I Tm 4.12).
2.2.2 “no meio de uma geração corrompida e perversa, entre a qual resplandeceis como astros no mundo”
(Fp 2.15-b). O evangelho não nos convida a sairmos do mundo, mas a estarmos distante do mal que há nele e não nos conformarmos com esse sistema dominado por Satanás (Jo 17.15; Rm 12.2; I Jo 5.19). A diferença que exerce o comportamento santo no meio de um mundo corrupto é comparado a influência que exerce a luz no meio das trevas. A Bíblia diz que “nós somos do dia e não das trevas” (I Ts 5.8) e que “devemos andar como filhos da luz” (Ef 5.8).

III - AS VIRTUDES DOS SALVOS EM CRISTO
A expressão “virtude” é definida pelo Aurélio como: “disposição firme e constante para a prática do bem; boa qualidade moral; força moral; valor”. No grego o termo “arete” denota tudo que obtém estimação preeminente por uma pessoa ou coisa; por conseguinte, “eminência intrínseca, bondade moral, virtude” (VINE, 2002, p. 1066). No contexto da nossa lição diz respeito ao conjunto de virtudes morais e espirituais amadurecidas pelo Espírito Santo na vida do crente como resultado de uma permanente comunhão com Cristo. Vejamos no quadro abaixo, aspectos do Fruto do Espírito:

ASPECTOS DO FRUTO DEFINIÇÃO E REFERÊNCIAS
Caridade (gr. agape) O interesse e a busca do bem maior de outra pessoa sem nada querer em troca (Rm 5.5; 1 Co 13; Ef 5.2; Cl 3.14).
Gozo (gr. chara) A sensação de alegria baseada no amor, na graça, nas bênçãos, nas promessas e na presença de Deus, bênçãos estas que pertencem àqueles que creem em Cristo (Sl 119.16; 2 Co 6.10; 12.9; 1Pe1.8; Fp 1.14).
Paz (gr. eirene) A quietude de coração e mente, baseada na convicção de que tudo vai bem entre o crente e seu Pai celestial (Rm 15.33; Fp 4.7; 1Ts 5.23; Hb 13.20).
Longanimidade (gr. makrothumia) Perseverança, paciência, ser tardio para irar-se ou para o desespero (Ef 4.2; 2Tm 3.10; Hb 12.1).
Benignidade (gr. chrestotes) Não querer magoar ninguém, nem lhe provocar dor (Ef 4.32; Cl 3.12; 1Pe 2.3). Bondade (gr. agathosune)
Zelo pela verdade e pela retidão, e repulsa ao mal; pode ser expressa em atos de bondade (Lc 7.37-50) ou na repreensão e na correção do mal (Mt 21.12,13).
(gr. pistis) Lealdade constante e inabalável a alguém com quem estamos unidos por promessa, compromisso, fidedignidade e honestidade (Mt 23.23; Rm 3.3; 1Tm 6.12; 2Tm 2.2; 4.7; Tt 2.10). Mansidão (gr. prautes)
Moderação, associada à força e à coragem; descreve alguém que pode irar-se com equidade quando for necessário, e também humildemente submeter-se quando for preciso (2 Tm 2.25; 1Pe 3.15; para  a  mansidão de Jesus, cf. Mt 11.29 com 23; Mc 3.5; a de Paulo, cf. 2Co 10.1 com 10.4-6; Gl 1.9; ade Moisés, cf. Nm 12.3 com Êx 32.19,20).
Temperança (gr. enkrateia) O controle ou domínio sobre nossos próprios desejos e paixões, inclusive a fidelidade aos votos conjugais; também a pureza (1Co 7.9; Tt 1.8; 2.5).

CONCLUSÃO
Aqueles que foram alcançados pela graça de Deus devem mostrar através da sua vida e procedimento os
resultados desse milagre operado por Deus através do Espírito Santo, vivendo em paz com os irmãos e andando em santidade diante de Deus e dos homens.

REFERÊNCIAS
CHAMPLIN, R. N. Dicionário de Bíblia, Teologia e Filosofia. HAGNOS.
STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD.
MACARTHUR. Bíblia de Estudo. SBB.
ARRINGTON, French L.; STRONSTAD, Roger. Comentário Bíblico Pentecostal. CPAD.

Publicado Por : Igreja Evangélica Assembleia de Deus – Recife / PE
Superintendência das Escolas Bíblicas Dominicais

quinta-feira, 25 de julho de 2013

4º TRIMESTRE DE 2013

Lições Bíblicas EBD / CPAD - 4 º  Trimestre de 2013 



Tema de cada lição

Comentarista: PrJosé Gonçalves

Tema: Sabedoria de Deus para uma Vida Vitoriosa
A atualidade de Provérbios e Eclesiastes

 Lição 1
O Valor dos Bons Conselhos                                                                   
Lição 2
Advertências Contra o Adultério                                                                 
Lição 3
Trabalho e Prosperidade                                                                              
Lição 4
Lidando de Forma Correta com o Dinheiro                                              
Lição 5
O Cuidado com Aquilo que Falamos                 
Lição 6
O Exemplo Pessoal na Educação dos Filhos                                          
Lição 7
Contrapondo a Arrogância Com a Humildade                                        
Lição 8
A Mulher Virtuosa                                                                                           
Lição 9
O Tempo para Todas as Coisas
Lição 10
Cumprindo as Obrigações Diante de Deus                                              
Lição 11
A Ilusória Prosperidade dos Ímpios
Lição 12
Lança o teu Pão Sobre as Águas                                                               
Lição 13
Tema a Deus em todo o Tempo

LIÇÃO 04 – 3º TRIMESTRE 2013

LIÇÃO 04 – JESUS, O MODELO IDEAL DE HUMILDADE - 3º TRIMESTRE 2013  (Fp 2.5-11)
INTRODUÇÃO
Nesta lição, veremos que Jesus é o nosso maior exemplo de humildade, pois, mesmo sendo Deus, suportou a humilhação de se tornar homem; e, como homem, tornar-se servo; e, como servo, ser obediente até à morte, e morte de cruz, a mais terrível, dolorosa e vergonhosa maneira de morrer na antiguidade. Mas a Bíblia diz que diante da honra vai a humildade (Pv 15.33). O Jesus que chegou ao grau mais profundo de humilhação, foi também elevado às maiores de todas as alturas (Fp 2.9-11).
I – DEFINIÇÃO DE HUMILDADE
Segundo o dicionário Aurélio, humildade significa “ausência completa de orgulho, rebaixamento voluntário por um sentimento de fraqueza ou respeito; praticar a humildade, modéstia, pobreza”. Percebamos que a humildade diz respeito a ausência de orgulho ou soberba. Apesar de ser o próprio Deus, Rei dos reis e Senhor dos senhores, Jesus abriu mão de suas prerrogativas divinas para tornar-se um homem simples e humilde, limitado pelo tempo e espaço. Segundo esta definição, a humildade ainda está relacionada a um rebaixamento voluntário. Quando se fez homem e morreu numa cruz, Jesus o fez porque o quis, e tal voluntariedade nasceu do seu grande amor com que nos amou (Mt 26.53; II Co 5.14,15; Ef 2.4). Tal amor o levou às mais extremas e humilhantes consequências, mesmo sendo ele Senhor e Deus.
II – O FILHO DIVINO PRÉ-ENCARNADO
Sabemos, sem sombra de dúvida, que Jesus é Deus. Sendo Ele Deus, é, por conseguinte, eterno. Sendo ele eterno, existia antes mesmo do seu nascimento humano (Jo 1.1; 8.58; Cl 1.17).
2.1 A divindade de Cristo. Em Fp 2.6 está escrito: “...que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus”. O texto está claro, afirmando que Jesus é igual Deus. Vários textos na Bíblia Sagrada atestam inequivocamente a divindade de Jesus. O próprio Pai celestial testemunhou da sua divindade (Hb 1.8). Além disso, vemos os anjos declarando o mesmo (Mt 1.23; Lc 2.11); o próprio Jesus sabia que era Deus (Mc 14.61,62). Quando chamava Deus de “meu Pai”, o que no pensamento judaico representava uma blasfêmia, Jesus estava se colocando como Deus. Prova disso é que os judeus tentavam apedrejá-lo quando fazia uso desta expressão (Jo 5.18,19). Vários outros textos afirmam a divindade de Jesus (Mt 28.9-17; Lc 4.35,36; 22.10-12; Jo 4.29; 8.24, 28, 58; Hb 13.8; Ap 22.13).
2.2 Um sentimento sublime. Em Fp 2.5 está escrito: “De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus”. Como já vimos, Jesus é Deus. Um dos atributos exclusivos da divindade é a onipresença. Na realidade, a onipresença de Deus é consequência da sua imensidão. Ele é tão grande que a sua glória permeia a terra e todos os céus (I Rs 8.27; Jr 23.24). O que, então, seria capaz de levar o grandiosíssimo Deus a se autolimitar e se tornar tão pequeno, ao ponto de caber no ventre de uma mulher? Certamente o seu imensurável amor o levou a se submeter à tamanha humilhação. Portanto, a expressão de (Fp 2.5) é muito forte, pois o mesmo sentimento que levou o Cristo a se humilhar, tornando-se um simples homem, deve também estar em nossos corações, e devemos manifestá-lo ao próximo (Mt 11.29; Jo 13.16,17).
III – O ESTADO TEMPORAL DE CRISTO
Quando falamos em estado temporal de Cristo, estamos nos referindo à sua condição como homem; estamos falando do Cristo (título divino) que se tornou Jesus (nome humano); do Deus eterno e onipresente que se limitou ao tempo e ao espaço.
3.1 “Aniquilou-se a si mesmo” (Fp 2.7-a). Entendemos que Jesus, ainda no seu estado pré-encarnado, decidiu “aniquilar-se a si mesmo” (Ap 13.8). O termo grego utilizado pelo apóstolo Paulo, traduzido por “aniquilar-se” é kenoo, que significa “esvaziar, humilhar, neutralizar, anular, despir-se de uma dignidade justa, descendo a uma condição inferior”. Foi exatamente isso que Cristo fez por nós: despiu-se temporariamente de suas prerrogativas divinas para se tornar um verdadeiro homem. Convém ressaltar que não estamos afirmando, com isso, que Jesus é metade Deus e metade homem. Ele é o perfeito homem Jesus Cristo (1 Tm 2.5), e o perfeito Deus em toda a plenitude “...porque nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade” (Cl 2.9). Afirmamos isso por causa dos equivocados teólogos quenóticos, adeptos do Kenoticismo. A doutrina kenótica diz que Jesus não era Deus quando esteve aqui na Terra. Afirmam isso, por interpretarem erroneamente, em (Fp 2.7), o termo “aniquilou-se”, ou “esvaziou-se”, concernente a Cristo. Esse “esvaziamento”, porém, NÃO É DE SUA DIVINDADE, MAS DE SUA GLÓRIA. Sem tal esvaziamento, Cristo não se humanizaria, e sem a humanização de Cristo não haveria a redenção humana (I Tm 2.5).
3.2 “Humilhou-se a si mesmo” (Fp 2.8-a). O termo grego para “humilhar-se” é tapeinoo, que significa “humilhar, abater, tornar-se de condição inferior, tornar-se pobre e necessitado, ser exposto à vergonha”. A humildade de Cristo é demonstrada pelo fato dele ter se colocado numa posição infinitamente inferior à Sua, ao ponto de ser envergonhado e maltratado pelos homens, sem, no entanto, desistir de sua missão (Is 53.7; Mt 26.62-64; Gl 3.13). Se o crente tomar esta mesma postura, muitos problemas de ordem interpessoal serão evitados. Cristo é o nosso maior exemplo de humildade.
3.3 “Obediente até a morte e morte de cruz” (Fp 2.8-b). A humildade de Cristo chega ao seu ponto mais alto, quando, além de ter se humanizado, ele subiu à cruz do Calvário. A sua obediência irrestrita ao Pai celestial o fez caminhar para o matadouro como uma ovelha muda (Is 53.7). Foge à compreensão humana a não reação de Cristo diante de seus algozes, afinal de contas, era o próprio Deus que estava ali. A humildade de Cristo o levou a sofrer as mais terríveis afrontas sem, entretanto, reagir (Mt 26.66-68; 27.28-35). Tal amor e humildade devem pairar em nossos corações (Mt 5.43-45; Rm 12.20; I Co 6.7). É verdade que na condição humana ele sentiu certa repulsa e temor da cruz, mas ele abriu mão de sua vontade para que a vontade do Pai se cumprisse nele (Mt 26.36-46). Isso nos deixa uma lição preciosa, pois a vontade de Deus deverá sempre prevalecer sobre a nossa (Mt 6.10; Gl 2.19,20).
IV – A EXALTAÇÃO DE CRISTO
Há um princípio espiritual interessante exposto pelo sábio Salomão em (Pv 15.33), que diz: “O temor do Senhor é a instrução da sabedoria, e precedendo a honra vai a humildade”. Enquanto a soberba precede a queda, aquele que se humilhar diante de Deus será por ele exaltado (Pv 16.18; Mt 23.12). Jesus desceu ao ponto mais baixo da humilhação ao sofrer o mais doloroso e vergonhoso tipo de morte da sua época, a morte na cruz (Gl 3.13), porém foi elevado às maiores alturas por causa do êxito de sua missão aqui na terra.
4.1 “Pelo que Deus o exaltou soberanamente” (Fp 2.9-a). A exaltação ocorre como consequência da humilhação (Tg 4.6). Após humilhar-se a si mesmo, Jesus foi grandemente exaltado pelo Pai celestial. O termo utilizado por Paulo é uperupsoo, que significa “elevar às mais elevadas alturas, exaltar excelsamente, exaltar supremamente”. Outro texto que demonstra não haver um nome e nem alguém tão elevado quanto Cristo é (Ef 1.19-23). Todos deverão reconhecer o seu senhorio e sua posição como “cabeça” (Ef 1.22,23). Jesus subiu ao céu, assumindo novamente sua posição de glória e assentando-se à destra de Deus (Rm 8.34; Cl 3.1). Ele é o Senhor dos vivos e dos mortos, tanto na terra quanto no céu e no Hades (Rm 14.9; I Co 15.25; Fp 2.9,10). Se o crente for humilde, também haverá de ser exaltado pelo Senhor (Mt 23.12; Lc 14.11; 18.14; Rm 8.30; I Pe 5.6).
4.2 “Nome sobre todo nome” (Fp 2.9-b). O nome geralmente simboliza a pessoa, o indivíduo, seu ser, sua natureza e atributos. O nome de Jesus se tornou a principal autoridade, superior a todo e qualquer nome que possa ser mencionado agora e na eternidade (Ef 1.19-21). Havia uma prática antiga de conferir novos nomes às pessoas que obtinham vitórias importantes ou que passavam por grandes crises. Vemos alguns exemplos bíblicos como Abraão (Gn 17.5) e Jacó (Gn 32.28). Jesus, o Cristo, recebeu por nome eterno o título de “Senhor” (Rm 1.4; Ap 19.16). O crente que se mantiver fiel
até o fim haverá de entrar num estado eterno de glória e receberá um novo nome (Ap 2.17; 3.12).
4.3 “Todo joelho se dobrará e toda língua confessará” (Fp 2.10,11) . Quando a Bíblia diz que todo joelho se dobrará, está fazendo menção de um ato de adoração e reconhecimento do senhorio de Cristo. (1) Isso ocorrerá nos céus (Ef 1.20; Hb 2.8; Ap 5.13); (2) Na terra (Dn 2.34,35; 4.34-37; 6.26; I Co 15.24); (3) Debaixo da terra, isto é, será reconhecido por aqueles que já morreram (Rm 14.8,9).
CONCLUSÃO
De fato, Jesus é o nosso maior exemplo de humildade. Deixar o trono pela cruz foi a maior e mais sublime expressão de amor e humildade de todos os tempos. Como pôde o próprio Deus vestir-se deste tabernáculo humano e submeter-se aos mais terríveis insultos e constrangimentos, e isso sem fazer uso de sua autoridade e prerrogativas? Jesus expirou na cruz, mas ao terceiro dia ressuscitou, subiu ao céu, cercou-se novamente de sua gloria, assentou-se à destra de Deus e reina sobre tudo e todos, pois é o Rei dos reis e Senhor dos senhores, e todos se dobrarão ante a sua majestade.
REFERÊNCIAS
· STAMPS, Donaldo C. Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD.
· Bíblia de Estudo Palavras-Chave. CPAD.
· CHAMPLIN, R. N. O Novo Testamento Interpretado Vers. por Vers; HAGNOS.
· BERGSTÉN, Eurico. Introdução à Teologia Sistemática; CPAD
Fonte: http://www.rbc1.com.br/licoes-biblicas/index/  Acesso em 22 jul. 2013.

3ª LIÇÃO 2013

LIÇÃO 03 – O COMPORTAMENTO DOS SALVOS EM CRISTO - 3º TRIMESTRE 2013     (Fp 1.27-30; 2.1-4)
INTRODUÇÃO
Nesta lição estudaremos as características comportamentais de uma cidadão do céu; veremos também qual deve ser a atitude do crente ante uma posição oposta a sua fé; analisaremos ainda qual deve ser a postura de um crente neste mundo tão hostil, maligno e distante de Deus. Faremos uma abordagem analítica de alguns versículos da carta aos filipenses contextualizando com nossos dias; e por fim, uma abordagem sobre os objetivos do testemunho e da conduta cristã.
I – DEFINIÇÕES
O Aurélio define comportamento como: “conjunto de atitudes e reações do indivíduo em face do meio social”.
A palavra testemunho que é um termo equivalente é oriunda do termo grego “marturion”. O Testemunho cristão refere-se ao comportamento e as atitudes dos servos de Deus, de acordo com o modelo bíblico (Mt 5.13-16). É dever de todo cristão, ter uma vida íntegra, independente do modelo e dos padrões da sociedade moderna (Fp 2.15; Ml 3.18; II Rs 4.9; I Tm 4.12).
II - O COMPORTAMENTO DOS CIDADÃOS DO CÉU (Fp. 1.27)
A notícia que Paulo desejava ouvir é a de que os filipenses “permanecessem firmes”, (Fp. 1.27-30) sem ceder terreno, unidos num só propósito como se fossem um só espírito, ou uma só “alma” (mente), “combatendo juntamente pela fé do evangelho” (Fp. 1.27). Vejamos o significado de algumas palavras do capítulo 1 versículo 27 da carta de Paulo aos filipenses:
2.1 “portar-se” (Fp 1.27-a). A palavra “portar-se” que melhor traduzida de acordo com o contexto se refere ao comportamento de um cidadão. Portanto, como “cidadãos dos céus” os cristãos devem conduzir-se de um modo digno do evangelho.
Esse modo digno de conduzir-se implica agir com firmeza e equilíbrio na vida cristã cotidiana.“somente deveis portar-vos dignamente conforme o evangelho de Cristo”. Paulo lembra nessa exortação o fato de que eles deveriam saber como viver numa sociedade comprometida com a cidadania imperial romana (Fp 2.15), sem se esquecer de que eles tinham uma cidadania celestial, cujo Rei era o Senhor Jesus Cristo. “Mas a nossa cidade está nos céus” (Fp. 3.20). O apóstolo apela para a conduta cristã que os filipenses deveriam ter em relação à vida da cidade política e social de Filipos.
2.2 “dignamente” (Fp 1.27-a). Esta palavra aparece no texto grego do NT como “axios” e é usada por Paulo em outras cartas (Ef 4.1; Cl 1.10; 1Ts 2.12). A palavra “axios” sugere, na sua etimologia, a figura de uma balança de dois pratos em que o fiel da balança determina a medida exata daquilo que está no prato. O valor ou dignidade é achado quando o fiel da balança fica na posição vertical central. Os pratos da balança que ficam em posição horizontal precisam ter o mesmo peso para equilibrar o fiel da balança. O cristão precisa ter uma vida equilibrada com o fiel da balança que é a vontade soberana de Deus para a sua vida.
2.3 “conforme o evangelho de Cristo” (Fp 1.27-b). Do mesmo modo como cada cidadão romano tinha que viver conforme as leis do Império Romano, os cristãos deveriam viver de modo digno do evangelho, sem ofender a lei terrena, mas nunca negando a salvação recebida de Cristo Jesus. Por isso, um cidadão consciente sabia que deveria sempre respeitar as leis do império para ter privilégios de cidadãos (Rm 13.1-7). Do mesmo modo, o cristão devia comportar-se como cidadão dos céus, porque sua nova pátria é o Reino de Deus. Mais à frente, Paulo identifica bem esse novo estado de vida do cristão quando diz: “Mas a nossa cidade está nos céus, donde também esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo” (Fp 3.20). O cristão deve, portanto, comportar-se de forma digna dessa cidadania (2 Co 5.17; Fp 4.3; 1 Ts 2.12).
2.4 “quer vá e vos veja, quer esteja ausente” (Fp 1.27-c). No caso de ser solto da prisão, Paulo planejava visitar aos crentes de Filipos; e ainda que assim não sucedesse, desejava receber confirmação de que estavam andando “dignamente”.
Se porventura as circunstâncias se tomassem adversas para o apóstolo, e ele tivesse de continuar aprisionado, queria ouvir falar do “andar” digno daqueles crentes, mesmo que não pudesse vê-los pessoalmente.
2.5 “que estais firmes” (Fp 1.27-c). Essa expressão pode ser comparada com o trecho de (Ef 6.11,13), onde o mesmo vocábulo grego é empregado, e onde o soldado cristão recebe ordem de resistir ao inimigo, sem retroceder, fazendo frente aos seus ataques e conquistando assim a vitória. (II Ts 2.15).
2.6 “em um só espírito” (Fp 1.27-c). Indiscutivelmente, a unidade no seio da igreja cristã, vem através da influência da residência do Espírito nos crentes, porquanto ele é o unificador e o fortalecedor da Igreja de Cristo.
III - OBJETIVOS DO TESTEMUNHO CRISTÃO
Podemos enumerar, pelo menos três objetivos do testemunho cristão. Vejamos:
· Demonstrar à sociedade que somos novas criaturas. Não há nenhum erro em tornar conhecidas a mudanças realizadas em nós, por intermédio da ação do Espírito Santo, desde que o objetivo não seja a auto glorificação.
Através do testemunho cristão, o crente demonstra à sociedade que já não é mais o mesmo, e que sua vida foi transformada, tornando-se numa nova criatura (Rm 8.1; II Co 5.17);
· Evangelizar. Através do seu testemunho pessoal o cristão também evangeliza (ITm 4.16). Sua própria vida já é um testemunho vivo do poder de Deus. Se demonstrarmos um bom testemunho diário, estaremos propagando, com eficácia, o poder do Evangelho que é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê, conforme (Rm.1.16);
· Glorificar a Deus. Ninguém pode duvidar que, através do testemunho cristão, os homens podem glorificar a Deus. Jesus disse: “Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus.” (Mt 5.16).
IV - A CONDUTA DO CRENTE NO MUNDO
Para ilustrar a importância da conduta cristã, o Senhor Jesus utilizou-se de dois elementos comuns aos ouvintes: o sal e a luz. A ilustração do sal fala do nosso caráter; a luz fala da nossa conduta. Cristo falou primeiro do sal da terra e depois da luz do mundo. Assim o caráter precede o testemunho. Vejamos algumas lições práticas que podemos extrair desses dois elementos:
· O sal é preservador. Ele conserva e preserva; daí ser figura da pureza. Sua cor alva também fala disso. Ele evita a deterioração.
· O sal produz sede. É a multidão perguntando aos apóstolos: "Que faremos varões irmãos?" (At 2.37). É o carcereiro de Filipos clamando: "Senhores! Que é necessário que eu faça para me salvar?" (At 16.31). São as multidões à procura de Jesus (Mt 4.25; 8.1; 12.15; 14.14). O crente, como sal, cria sede espiritual nos outros, e, como luz, conduz as pessoas Àquele que é a fonte da salvação.
· O sal é invisível quando em ação. O sal, antes de ser aplicado, é visível, mas ao começar a agir, temperando, preservando torna-se invisível. O sal, age invisivelmente, mas sua ação é claramente sentida.
· O cristão como luz do mundo. Diferente do sal, que não é visto em ação, a luz só tem valor quando é percebida.
A ausência da luz permite que a escuridão prevaleça. Mas, quando a luz chega, as trevas desaparecem.
· A luz precisa ser alimentada. A luz que iluminava as casas nos tempos de Jesus era de lamparina, alimentada através de um pavio mergulhado em azeite. O tipo de material da lâmpada variava, mas o combustível era um só: o azeite. O mesmo ocorre ao verdadeiro cristão. Ele depende sempre do óleo do Espírito Santo para difundir a luz de Cristo e a luz do Evangelho (Mt 25.3,4).
· A luz não se mistura. Mesmo que ela ilumine lixo, sujeira, lamaçal, etc, ela não se contamina. Assim deve ser o crente: viver neste mundo tenebroso à difundir a luz de Cristo, sem se contaminar com o pecado e as obras infrutuosas das trevas (Mt 5.16; Fp. 2.15).
V - A ATITUDE DO CRISTÃO NO MUNDO
A palavra de Deus, como “regra de fé e prática” do cristão, descreve os princípios divinos que direcionam e guiam a vida do cristão, independente de sua cultura, status, época, etc. (Sl 119.9,11,105; Jo 17.17). Vejamos, então, na Palavra de Deus, a atitude cristã neste mundo:
· Não devemos nos conformar com o mundo (Rm 12.2). A expressão “não vos conformeis” tem o sentido de “não tomar a forma” ou “não ser igual”. Em outras palavras, o apóstolo Paulo estava dizendo: “não queira ser igual ao mundo”. O cristão deve reconhecer que o presente sistema mundano é mau (At 2.40; Gl 1.4) e que está
sob o controle de Satanás (Jo 12.31; I Jo 5.19).
· Não devemos ser amigos do mundo (Tg 4.4). Ser amigo do mundo significa acatar e aceitar os pecados, valores e prazeres mundanos. Por isso, Deus não aceita tal amizade (Mt 6.24; I Jo 5.19).
· Devemos vencer o mundo. Todo cristão enfrenta, no seu dia-a-dia, três grandes inimigos: o diabo (I Pe 5.8), a carne (Gl 5.17) e o mundo (I Jo 5.4); que tentam deter sua jornada espiritual e distanciá-lo de Deus.
CONCLUSÃO
Concluímos que o comportamento dos salvos em Cristo, deve ser de forma digna conforme o evangelho do Senhor Jesus, portando-se de tal forma que os incrédulos vejam a luz do evangelho e conheçam a salvação através de Cristo Jesus (Mt 5.13-16) e glorifiquem o vosso Pai que está nos céus, pois os salvos foram chamados para salgarem e serem luz em todas as esferas da vida, onde quer que eles estejam.
REFERÊNCIAS
· ARRINGTON, French L.; STRONSTAD, Roger. Comentário Bíblico Pentecostal. CPAD.
· CHAMPLIN, Russell Norman. Dicionário de Bíblia, Teologia e Filosofia. HAGNOS.
· CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. HAGNOS.
· STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD.
· VINE, W.E, et al. Dicionário Vine: o significado exegético e expositivo das palavras do AT e do NT. CPAD